30 de maio de 2012

Ponto de Fuga



Um dia desaparecerás como o fumo de um cigarro

consumido pela noite

ao silêncio pagarás tributo

serás só luz

e o ouvido para a pergunta de outros

que como tu se incendiaram de infinito.

29 de maio de 2012

Aqueduto das Águas Livres



A praia como uma porta

abre-se aos pés descalços

por instantes a pele é uma vaga

invade de espuma o coração

que bate a perder de vista

a carne assim rasgada pelo azul

acorda o corpo

aceso subitamente pelo mar


28 de maio de 2012

25 de maio de 2012

As Palavras que das Margens Gritam

The Thin Red Line - Terrence Malick


E que ouço eu

que escrevo eu

que ossos são estes que rangem de noite

que mar é este que não nos deixa dormir

que cidade é esta que outrora nos fez feliz

que ruas

que alamedas

que jardins

onde passámos sem medo

que portas onde entrámos para fazer amigos

que templos estes em que cantámos ingénuos

a alegria sem fim

que vozes antiquíssimas

que rumores espectrais

nestes barcos à deriva

estes braços

estes abraços

estes mastros distantes

estas velas cheias de silêncio

Estas praias nas veias

a sagrada euforia da infância

éramos tão felizes eu e tu

parecíamos florir constantemente

num movimento centrípeto

os corpos completos

semeados pelos lençóis

agora paro e choro

reconheço a obscuridade do meu nome

separado pelo grande rio

confesso às águas desta margem

a melancolia que me sinaliza a vida como um chicote

os olhos de verde sépia

são antigas aves

cobertas de nevoeiro

meus pais

meus avós

meu irmão

meus soberanos

minhas artes que se partem em frente ás vagas

assinalam a próxima viagem

já sem o corpo

crepúsculo a anos luz da de qualquer coisa conhecida

uma matéria fantasmagórica

em direcção ao total esquecimento

flores nocturnas

estrelas cadentes

relâmpago que explode sobre a falésia

quase a sonhar





17 de maio de 2012

Da condição do Coração que nas tuas mãos se desfaz

Chet



Fecham-se os olhos

para verem por dentro

as pálpebras cheias de mar

e a cabeça com mapas para nos perdermos

o coração devora o corpo

o peito estala em poemas

abre-se a pele á flor

que flutua acima dos astros

onde um dia aconteceremos

a matéria interna

desenha nitidamente

o impossível

a música

perfeita

profética

acorda a noite

com seus punhais crepusculares

laminas brancas

luzes de néon

violentas viagens

o sal na boca

à procura da água para adormecer de azul

uma paisagem de areia

onde brilham pequenos pássaros

como as estrelas da infância

o sonho a perder de vista

nas margens dos lábios

no inicio do teu rosto

uma praia

onde se desfia o meu corpo

pouco a o pouco

arde completamente

e nada mais será sombra.