28 de julho de 2009

Astros




Desapareceu na imensidão negra do papel branco
ainda louco na espuma do pensar
molhada memória marítima da caneta arterial
o vento branqueia as nuvens de prata
olha-me saboreia-me ou desata-me contra as árvores
que trago nestes olhos melancólicos
duas luas cegas separadas pelo firmamento
algodão da noite doida ás invisíveis tempestades
a ideia crepuscular de um coração de musica interna
pão para ouvidos famintos da boca
delicados trapézios
o sonho levanta-se inútil
ás primeiras horas do corpo
observa o anjo incendiado a seus pés
um queimar de estrelas
um violino silencioso outra vez
um movimento angular por dentro do desassossego
na minha garganta de animal feroz e terno
eu já não posso falar de mim
sem a certeza de ser eu
e os dias escorregam como gotas
na amplitude do sentir
dias e dias sem descanso
passos de sangue desperdiçado
no medo terrifico do amor profundo
eu era uma casa em chamas
por baixo da insónia
uma cabeça de flores crianças
sem o seu jardim
uma respiração convulsa na procura do dom
um ingénuo mendigo ardendo em astros de poemas.




Brevemente...





Brevemente
Assim se chama a vida
um falso lugar ancorado a três poemas
o meu, o teu e o desconhecido

27 de julho de 2009

Lugares




Para sermos um turbilhão que corre para a luz do acordar
Para sermos infindáveis e belos
Para sermos línguas de fogo e ardermos no pensar da carne.

Musicos Loucos



Se pudéssemos voar para dentro
não seria preciso cortar os pulsos
e calçar os sapatos para nos perdermos
como cães raivosos de terem um filho gato
É com os dentes que se afiam alguns pianos
É entre o fim da noite e a aurora
que chegam os melhores demónios
e os anjos mais perversos
ensinam-nos o caminho
passos em falso na direcção correcta.

Ameaça Suspensa



Tenho saudades de morreres em mim como vinho na boca de sua cepa
Que fazer com um coração tão perfurado?
pronto para a agressão com as melhores intenções
há um tempo para bruxedos e facas de chocolate
se eu soubesse de mim nunca perguntaria.

15 de julho de 2009

Da Fuligem das Noites





Da fuligem das noites

sobra a devastação dos lábios por comer

da memória colectiva dos braços por apertar

resta o coração perfurado pela a evidencia do sonho

peço perdão e porque não peço perdão ao não

mesmo que seja tarde para o sim

e para o debruçar do oceano sobre as janelas dos teus olhos abertos pela devoradora miragem

Vejo

penso

canto

sobrevivo cadáver à claridade

angustia de não te soletrar o nome

no relento da pele tatuada ou em gracioso sangue tanto faz.

As maçãs atónitas de teu ventre enlouquecem os dedos profundamente lunares

fogos persistentes no além rosto obscuro

destruímos o mundo para ficarmos sós eternamente

alimentamos assim o infinito.

Poderíamos Dizer


Poderíamos dizer das nossas bocas

que a morte saberia um pouco mais a vida.

Poderíamos dizer se soubéssemos enlouquecer

ou roer a corda do tempo e partir