29 de junho de 2012

Um Modo de Chegar

Ben Gosseens



Comunico-te

aquilo que descobri

tenho tudo

e tudo me falta

além da faca

com que rasgo a madrugada

a caneta

com que pinto e com que sangro

neste oficio de atar

as águas, às letras e

abrir o coração do mar

como um fruto em chamas

surpreendido

pela combustão de sua árvore

assim soubesse eu iluminar-me

e sonhar-te adequadamente

desde a raíz.


21 de junho de 2012

Viagem

Iman Maleki 


Fecham-se as pálpebras

para que o mar se abra como uma janela

quebram-se os vidros na tempestade do sonho

a casa oscila

navega

palpita nos braços das ondas

a casa são dois corpos de cristal e bruma

unidos pelos astros

velas dos altos mastros

esses lugares difíceis

em que se despenham os dias

e os enigmas no peito

 pássaros perdidos

que voam feridos

na viagem em que o poema

como um guindaste

me ergue até às tuas mãos

onde espreita a vasta claridade

na noite que sou.

20 de junho de 2012

Liquidos





Há uma diferença nas águas

magoam mais

as que dos olhos nascem ao luar

que podia morrer a ver o mar

Se o mar se deixasse matar


15 de junho de 2012

A Vertigem



da profunda moldura de certas manhãs

em que todos os que amamos

incandescentes surgem aos primeiros raios de sol

onde tudo é serenidade

e estremece a origem


11 de junho de 2012

Homeless





Poderia construir

na desmedida paisagem

que atravessa toda a inocência

um edifício

para nascer outra vez

onde me visses

desarrumado de aprumos

com as mãos salgadas

e a pele inacabada

a tentar vestir o corpo

inutilmente

porque não tenho roupas quando escrevo