6 de julho de 2012

Não Peças Desculpa

Abbas Kiarostami


Pelas algemas lunares

pelo incomensurável peso do mar

pelo sal nos olhos

pela cinza na pele

pela insónia que dá à costa do corpo

pelo pássaro sem asas

devastado pela rebentação

pelo coração irregular

pelo medo de perder

o que nunca possuíste

pelas mãos que tremem

no sono convulso

sob as nascentes do sonho

a água musical da vida

pelos anjos que se assomam á janela

dessa casa nocturna

e batem nos vidros da memória

e partem os vidros

e deixam ferida

a vida em fúria indefinida

de punhos cerrados

e olhos fechados

o grito que fica

na mínima partícula

da palavra justa

e pelo gesto desajeitado

não peças desculpa

se não podes alterar o curso do vento

o gotejar do silêncio

na lenta sombra do tempo

nem o sentido

do sentido


5 comentários:

Rita Freitas disse...

"Não peças desculpa se não podes alterar o curso do vento"

Belo

Bjs

Isa Lisboa disse...

Há coisas que não podemos alterar e pelas quais não vale a pena pedir desculpa...
Gostei muito deste poema, um lamento, uma constatação de que não se pode alterar "o sentido do sentido".
Beijos

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

pois, se não podemos alterar não vale a pena pedir desculpas.

um pouco nostálgico.

um bom doming

um beij

Manuel Veiga disse...

torrencial. "lavando" todas as desculpas...

abraço

~pi disse...

filme arrebatador
que carrega
um sismo de palavras

e ventos. e ventos.



beijos





~