Transformado em árvore
enraízo-me e tremo ao vento
o rosto debruado a folhas
as mãos como troncos prometidos á Primavera
abrem-se para sentir
falo de uma fúria que se abate no centro
e sinto a feroz fechadura do tempo
que nos rouba o futuro
mesmo assim
passeio o sonho aberto pela insónia
solenemente desço as escadas
abro os mapas conhecidos da noite
coberta de melancolia
navego pelas horas delicadas e silenciosas
escrevo o fogo interior que impõem a luz
para que possa pousar o breve pássaro da paixão
privilégio ácido
um acidente cortante
um espasmo que pode causar horror
e muita insensatez
não quero que o compreendam
não isso não
teria de admitir que estou correcto
chegaria a causar horror perante vós
suponho que a porta bateria
não admitiriam mais a sua presença
e a minha ausência notar-se-ia extremamente
por isso digo aos que nas zonas profundas
constroem o seu abrigo
aqueles cujos corpos levantam voo
para formarem nuvens
desses sou a flor que espera a chuva
2 comentários:
re-nascer sempre
e a esperança é verde.
poema muito bom.
beij
O poema me chega todo em tom confessional. Com uma profunda inquietação, e esta perpassa a esfera do silêncio, chegando em ondas sonoras, "obrigando-nos" a nos escutarmos também.
Um poema cerebral, eu diria, pois nenhuma metáfora está aqui à toa.
Vim do blogue do Manel (Pé de Meia).
:)
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