Sacudir o sonho
como um resto de pó
de um velho casaco
para que a pele guarde no silêncio
a sua cicatriz
mas no mesmo sitio
vê-se claramente a queimadura
de outra ferida
a pele rasgada pelo impossível
é do corpo a combustão do homem
onde uma mulher terrível
lançou à distância
o seu tenebroso silêncio
desfigurando-lhe o coração
das cinzas férteis
outra surgia lentamente
como a semente adormecida pelo rigor do frio
compreendia a seiva
brotava do chão como uma casa luminosa
ligava a máquina nocturna
onde o homem fabricava as nuvens
e alimentava o miraculoso fruto da paixão
o resto é sémen
lágrima
boca
escuridão
2 comentários:
"ligava a máquina nocturna
onde o homem fabricava as nuvens
e alimentava o miraculoso fruto da paixão"
Como quem rasga versos no limiar da paixão.
Belíssimo!
Nem todas as noites são claras
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