26 de setembro de 2012

Notas Inuteis




Sacudir o sonho


como um resto de pó


de um velho casaco


para que a pele guarde no silêncio


a sua cicatriz


mas no mesmo sitio


vê-se claramente a queimadura


de outra ferida


a pele rasgada pelo impossível


é do corpo a combustão do homem


onde uma mulher terrível


lançou à distância


o seu tenebroso silêncio


desfigurando-lhe o coração


das cinzas férteis


outra surgia lentamente


como a semente adormecida pelo rigor do frio


compreendia a seiva


brotava do chão como uma casa luminosa


ligava a máquina nocturna


onde o homem fabricava as nuvens


e alimentava o miraculoso fruto da paixão


o resto é sémen


lágrima


boca


escuridão

2 comentários:

Lídia Borges disse...

"ligava a máquina nocturna
onde o homem fabricava as nuvens
e alimentava o miraculoso fruto da paixão"

Como quem rasga versos no limiar da paixão.

Belíssimo!

Mar Arável disse...


Nem todas as noites são claras