Posso encher a caneta de impossível
inebria-la um pouco
talvez a faça sonhar uma vez mais
a última vez
peço-lhe que escreva no vento
o meu nome
para que esqueça
o futuro que foi presente
um dia com a Primavera na boca
deixei o coração sobre a mesa
para que iluminasse a casa
não poderia dar-te mais
depois parti
nunca fui desse mundo eu sei
e que mundo existe para lá
do pequeno filamento que acende o sonho
que faremos no regresso da viagem
quem nos esperará para lá dos portões
e se pudermos falar
que diremos aos que não podem escutar
tenho tanto medo
de te perder
tenho tanto medo
de não poder pagar o preço
tenho tão pouca fé
por isso digo-te baixinho
para não te magoar
amo-te
gosto tanto de ti
perdoa-me se puderes
hoje estás tão bonita
e mais um barco de tolices
Impróprias para um homem da minha idade
dirão os mais avisados
que perderam a infância em devido tempo
mas eu perplexo indeciso e vagabundo
como um albatroz sobre o mar
olho de cima para tudo isto
sei que este não é o lugar
onde poderemos matar a sede
pousar o corpo
aliviar a febre e o cansaço
e ao peso da sombra
responder com ferocidade
sou possível
e como o aço da lamina
firo
sou possível
mesmo que arda irremediavelmente
serei na tua escuridão
a inquieta brancura das velas
dessa nave que floresce a cada vaga
que procura ainda na vacilante trajectória
um porto seguro
essa casa tão breve
com o orvalho a brilhar por dentro
das pálpebras do luar
e a língua
fogueira a falar
a forma demasiado humana
e plena
este poema
6 comentários:
o teu nome
mesmo que o lance ao vento
será sempre
e só
o teu nome...
beij
E que encontre o seu porto seguro!
.
.
. pleno tempo re.inscrito .
.
.
cartas de amor são ridiculas?
não sei, não.
o poema é belíssimo.
forte abraço
gosto de reler este poema...
diz tanto..
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