Infinito Atlântico
HÁ COISAS QUE SÓ SE VIVEM, OU ENTÃO, SE INSISTIRMOS EM AS DIZER, É NECESSÁRIO FAZÊ-LO EM POESIA. Pier Paolo Pasolini. Este Blogue não seguirá, por respeito à Língua Portuguesa, o designado "acordo ortográfico"
20 de agosto de 2013
19 de agosto de 2013
Livro - O Mar Todo
Baseado no trabalho desenvolvido neste blog, já saiu este meu livro que pode ser adquirido nas livrarias de Peniche, Torres Vedras, Óbidos e Caldas da Rainha ao preço unitário de 10 €. A obra tem 106 páginas e quem quiser pode fazer-me a encomenda directamente a mim através do meu email: carlosjoseoliveira@gmail.com. O preço, neste caso será de 8 €, que inclui já todos os gastos de envio pelo correio. Quem puder e quiser poderá também divulgá-lo nos seus sitios, blogs, facebook etc. Ficarei muito agradecido. Muito obrigado a todos
3 de dezembro de 2012
Fim
Chegou ao fim o Infinito… ao longo de quase 3 anos. Fui grafitando pedaços de mar, estilhaços que se propõem poemas. Foram feitas 103 entradas, realizados muito mais comentários que aqueles que esperava e merecia, uma vez que a minha retribuição foi sempre irregular e escassa. Agradeço por isso aos amigos invisíveis mas audíveis, que me acompanharam com tenacidade ao longo desde projecto. Num país em que é quase impossível publicar com a dignidade que a poesia merece, agradeço profundamente a atenção e carinho que a este livro gratuitamente dedicaram e ao longo deste tempo fomos escrevendo.
Até breve em qualquer lado
Carlos Ramos
28 de novembro de 2012
Sem Titulo
no amago da cinza
entre as mãos que ainda sentem
raízes que ainda vivem
como encontrar-te….
Como quebrar o silêncio e a distância
em nome do mar te dou o meu nome
em nome do céu de dou o verd`azul do meu olhar
em teu nome recebe esta luz em que mais ninguém crê
e estes dedos que têm um brilho que só tu vês
muito pó e o labirinto onde algemei o corpo
a tudo que não podia te oferecer
áquilo que não pediste para deixar para trás
quando saíste subitamente
o amor ainda estava sobre a mesa
e os frutos da alegria ainda desprendiam
o seu suave odor
a casa respirava
erguia-se da superfície da terra
estava viva
até aquela hora medonha
em que partiste
e também eu agora
me despeço
guarda-me se puderes
devolve-me depois ás algas
indica-me o caminho
porque eu nunca soube para onde ia
ouvia os teus passos cá dentro em surdina
perguntava e o coração queimava tanto
que os olhos enlouqueciam de humidade
criavam sulcos no rosto
desaguavam em orquídeas lunares
enquanto o lume fazia o seu trabalho
eu não aguentava
rezava para o nada
no amago da cinza
entre as mãos que ainda sentem
raízes que ainda vivem
como encontrar-te….
deito-me agora no que resta da casa
luto inutilmente contra a maré que sobe rapidamente
tudo naufraga
tudo é do mar
tudo é obra do mar e da tempestade
até a tua sombra e a minha
que caminhavam junto ás altas camélias
no sol de Agosto
quando eu cultivava o azul para te oferecer
queria um azul que mais ninguém soubesse
um azul que silencioso gritasse o que não te conseguia dizer
um azul que silencioso gritasse o que não te conseguia dizer
uma página com o teu rosto bastava
para acordar o corpo
agora é hora de partir
tudo perdi e tudo ganhei
a chave do abrigo onde fazíamos o ninho
e pousávamos um no outro
vazávamo-nos um para dentro do outro
e voltávamos a encher
até sermos somente espuma
os dias eram claros e não havia espelhos
nem duvida
nem teias
nem blasfémia
tudo era tudo
eu podia chorar abertamente
as lágrimas corriam para o sitio certo,
agora sou aquele que vês
trago a foice por dentro
pássaros mortos
corto os fios internos
desato-me das pessoas e escrevo
porque agora sei de onde venho
do amago da cinza
entre as mãos que ainda sentem
raízes que ainda vivem
como encontrar-te….
caricia de borboleta
que me voava no rosto
agora é noite
esta derrocada de granito
vespera de nuvens
e dos lugares povoados pelas medusas estelares
deixa-me percorrer o caminho em direcção á sombra
guarda-me abraça-me e beija-me o mais que puderes
talvez eu ainda te ofereça a prometida flor azul
para o alicerce das águas
onde um dia fomos muitos pássaros
onde um dia fomos muitos pássaros
estou desabitado
e a casa em ruínas chove-me em cima
persegue-me
porque agora sei de onde venho
do amago da cinza
entre as mãos que ainda sentem
raízes que ainda vivem
como encontrar-te….
agora que a sombra tudo arrastou tudo levou
mãe
e tu meu grande amigo que tanto ladravas ás ondas
que corrias mar dentro
para as reunir como um rebanho
e me olhavas cheio de entendimento
onde estarás
senão no grande esquecimento
da minha memória
no amago da cinza
entre as mãos que ainda sentem
raízes que ainda vivem
como encontrar-te….
e se choro agora e se rezo outra vez
não é porque tenha fé
não é porque acredite nele
é porque sei que és minha
e escrevo para a noite
porquê sei que não dormes
lá nessa estrada celeste
onde estão marcados os nossos pés
e o caminho perdido
quando foi achado
e novamente perdido
e novamente perdido
quando foi pela ultima vez
que jurámos coisas terríveis
quando foi que levantaste a cabeça
e as estrelas se perderam do céu
quando foi que percebeste
que o teu pai
era apenas o coração de tua mãe
e uma paisagem destruída
escuta-me pois
se me acompanhares conhecer-me-ás
mas não valerá a pena
pois eu virei as costas deixei que morresses
sem te olhar uma ultima vez
ao chegar o decisvo momento
que poderemos dizer
para sermos um pouco mais que as pirâmides do deserto
senão todos os desertos simultaneamente
senão todos os desertos simultaneamente
uma vaga explosão invade o corpo
expande o vazio
fecha os olhos
e nota que apesar disso
decorreram séculos desde que nos encontrámos algures
não aprendemos nada
pois ao caminhar para o extremo da sombra
ilumino-me uma ultima vez
queimo e pago o preço da combustão do corpo
para ser cometa cadente
do teu peito um farol
e criança a brincar na praia
a fazer barcos de papel
e marinheiros em concha sobre o convés
e um grande anjo branco a fazer de vela com as suas asas
vê onde estive e onde estou
vê o que te dei sem nunca possuir
o dia que fecha e abre como uma flor
deposito a flor
não digo o que não sou
sei que sou contra o silencio afiado
um gume prodigioso
um gume prodigioso
digo a distancia
nada receias
porque o que está para trás
está para sempre perdido
no amago da cinza
entre as mãos que ainda sentem
raízes que ainda vivem
como encontrar-te….
tu choravas as feridas de anteriores acidentes
eu crucificava o coração com a verdade
semeava a tempestade
amava-te tanto
esperava a vaga que me levasse mar adentro
para me afogar no teu sangue,
eu abria a longa cicatriz que já trazia
sem saber
sem saber
para te mostrar o meu nome
eu que de tão longe venho
eu que te conheço
porque te sonhei tantas vezes
neste chão sombrio de luz
eu que no meu luto branco
já não luto pela flor e pelos lábios
onde me morrem todas as palavras
eu tive medo dessa casa sem tecto
poderia cegar
porque tu querias ver as estrelas
perdoa-me
tive medo de tanta luz
e da dor silente que somávamos sem tréguas
o que sinto pouco importa
no amago da cinza
entre as mãos que ainda sentem
raízes que ainda vivem
como encontrar-te….
caminho nu
como uma poema no papel deserto
sem cidade
sem casa
caminho através de cada letra
trago uma abelha luminosa na lapela,
mas ninguém vê
ninguém sente a minha ausência
não imaginas a dimensão do que nunca tiveste
pois se eu fosse apenas um destino
que não o assombro gentil do desespero
se eu não fosse apenas a nervura
da despedida das mãos
da desunião dos corpos
da devastação que a foice realiza
nas douradas searas do peito
e por baixo o vulcão
onde ternamente derramei a ultima gota de esperma
se eu existisse
se eu existisse
no amago da cinza
entre as mãos que ainda sentem
raízes que ainda vivem
poderia encontrar-te….
destruir o falso equilíbrio
que a mentira perpetua
retirar o véu
mostrar as feridas onde tudo começa
mas o corpo deixou de procurar o sul
e o céu adoeceu magenta
o tempo abriu o grande fosso
e nunca mais nos visitámos
no amago da cinza
entre as mãos que ainda sentem
raízes que ainda vivem
como encontrar-te….
16 de novembro de 2012
Flores
"Spleen et Ideal" - Carlos Schwabe
Assim como divido
também multiplico
destruindo
construo
aniquilando
edifico
dizendo
calo
recordando
esqueço
vivendo
morrro
no tumulo
floresço
25 de outubro de 2012
Do que Briha
Vincent V. G. - Blue Sky
vê
eu em ti
cego de medo
nem sei quem sou
se não me disseres
a palavra que brilha tão perto de nós
um rio que corre para a sua foz
e depois o mar
onde sonhando navega esse barco de luar
não sei fugir
da praia onde quero naufragar
esconder para mostrar
a palavra é um bairro de letras
o poema, o coração da cidade
batendo contra o céu impossível
17 de outubro de 2012
Um Abismo Sem Importância
Escuto o estrondo da luz
rompendo pelo corpo acima
deflagra o poema
na carne viva
um relâmpago ao fechar dos olhos
todo o silêncio canta
como uma rosa imperecível
algodão na boca
nuvens inteiras á disposição do vento
aeronaves que sobrevoam o peito
eu piloto o espirito
transporto as matérias primordiais
à cidade que só tu podes habitar
abro a janela à intempérie
deixo entrar o naufrágio
sonho
salvo-me
do silencio completo
da fermentação das sombras
e das casas onde as lâmpadas ardem negras
em esperança inútil
é pior o terror dos lugares intermédios
onde a possibilidade subitamente desfaz
o rosto esperado
no espelho quebrado
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