HÁ COISAS QUE SÓ SE VIVEM, OU ENTÃO, SE INSISTIRMOS EM AS DIZER, É NECESSÁRIO FAZÊ-LO EM POESIA. Pier Paolo Pasolini. Este Blogue não seguirá, por respeito à Língua Portuguesa, o designado "acordo ortográfico"
28 de julho de 2009
Astros
Desapareceu na imensidão negra do papel branco
ainda louco na espuma do pensar
molhada memória marítima da caneta arterial
o vento branqueia as nuvens de prata
olha-me saboreia-me ou desata-me contra as árvores
que trago nestes olhos melancólicos
duas luas cegas separadas pelo firmamento
algodão da noite doida ás invisíveis tempestades
a ideia crepuscular de um coração de musica interna
pão para ouvidos famintos da boca
delicados trapézios
o sonho levanta-se inútil
ás primeiras horas do corpo
observa o anjo incendiado a seus pés
um queimar de estrelas
um violino silencioso outra vez
um movimento angular por dentro do desassossego
na minha garganta de animal feroz e terno
eu já não posso falar de mim
sem a certeza de ser eu
e os dias escorregam como gotas
na amplitude do sentir
dias e dias sem descanso
passos de sangue desperdiçado
no medo terrifico do amor profundo
eu era uma casa em chamas
por baixo da insónia
uma cabeça de flores crianças
sem o seu jardim
uma respiração convulsa na procura do dom
um ingénuo mendigo ardendo em astros de poemas.
27 de julho de 2009
Musicos Loucos
Se pudéssemos voar para dentro
não seria preciso cortar os pulsos
e calçar os sapatos para nos perdermos
como cães raivosos de terem um filho gato
É com os dentes que se afiam alguns pianos
É entre o fim da noite e a aurora
que chegam os melhores demónios
e os anjos mais perversos
ensinam-nos o caminho
passos em falso na direcção correcta.
Ameaça Suspensa
15 de julho de 2009
Da Fuligem das Noites
Da fuligem das noites
sobra a devastação dos lábios por comer
da memória colectiva dos braços por apertar
resta o coração perfurado pela a evidencia do sonho
peço perdão e porque não peço perdão ao não
mesmo que seja tarde para o sim
e para o debruçar do oceano sobre as janelas dos teus olhos abertos pela devoradora miragem
Vejo
penso
canto
sobrevivo cadáver à claridade
angustia de não te soletrar o nome
no relento da pele tatuada ou em gracioso sangue tanto faz.
As maçãs atónitas de teu ventre enlouquecem os dedos profundamente lunares
fogos persistentes no além rosto obscuro
destruímos o mundo para ficarmos sós eternamente
alimentamos assim o infinito.
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